
A origem da patranha é incerta, mas pressume-se que ela tenha surgido em um programa de entrevistas de um canal de televisão dos Estados Unidos, em que um convidado, orientado para aumentar a audiência do talk-show, soltou a falácia.
E para se ter idéia da repercussão na época, o boato fez mergulhar as vendas da rede, comendo até trinta por cento do movimento de uma grande loja Mc Donald’s na cidade de Atlanta, nos EUA, levando-a a dispensar um terço de seus empregados.
A empresa internacional de sanduíches imediatamente recorreu ao Ministério da Agricultura dos Estados Unidos (USDA) exigindo um parecer contra a mentira. Através de uma carta oficial com resposta do órgão do governo americano, que afirmava ser a notícia circulante “completamente infundada e sem importância”, a Mc Donald’s promoveu uma conferência que reunia a imprensa para lhe esclarecer a balela.
Os noticiários trataram de mastigar para os devoradores de big mac o que viram no encontro. A edição do Newsweek em 27 de novembro de 1978, ratificou a avaliação do governo americano, ressaltando que a análise feita não detectava qualquer aditivo de minhocas no hambúrguer da empresa. O encarte do Financial Time de 1º de outubro de 1982 também enfatizava o que o departamento de agricultura americano atestara: o hambúrguer dos sanduíches da Mc Donald’s é puramente fabricado com carne bovina.
Mas o que manifestou um dos proprietários da empresa Mc Donald’s desde 1955, Ray Kroc, ao The Times de 30 de abril de 1992, tem mais valia do que o ofício do governo norte americano. Ao jornal, ele declarou que “não poderia se dar ao luxo de usar minhocas nos hambúrgueres da empresa como substituto da carne bovina, simplesmente por ser uma troca mais cara”. E contabilizou fazendo comparação com uma espécie de minhoca endêmica de seu país muito usada como iscas, a night crawler (Lumbricus terrestris):” – meio quilo de hambúrguer de carne bovina custa 1,25 dólares e meio quilo de minhocas, 6 dólares”.
Ainda que a troca de carne de boi pela de minhocas fosse economicamente viável, a empresa teria um grande obstáculo a transpor. Infelizmente, o nojo que impera sempre que se refere às minhocas é tamanho que se torna meticulosa e arriscada a intenção de lançá-las como alimento humano. Mesmo com a argumentação da extraordinária qualidade nutricional das minhocas, a Mc Donald’s precisaria derrubar a repugnância estabelecida aos vermes pelo homem, principalmente para ser consumidos. Noutras palavras, é que quando apenas se fala em minhocas, os narizes se retorcem e a boca solta um “yahck” e, diante deste quadro, qualquer esforço é ínfimo para convencer que minhoca é nutritiva e pode ser comida.
O boato do hambúrguer da Mc Donald’s, que às vezes troca de recheio e pula para ingredientes diferentes, como a carne de canguru, foi amargo e não teve preço promocional. Foi, por isso, relatado por diversos livros de grande vendagem que trituram as lendas e boatos urbanos.
Mas os grandes fãs de Mc Donald’s vão ao restaurante mesmo ouvindo dizer que no hambúrguer tem verme gosmento. E os mais ressabiados, que antes matavam parte da vontade comendo apenas batata frita e sentindo o cheirinho do sanduíche, podem engolir: o big mac é mesmo feito com dois hambúrgueres (sem minhoca), alface, queijo, molho especial, cebola e picles no pão com gergelim.
Afrânio Augusto Guimarães – zootecnista / MINHOBOX
Jornal da Minhoca - edição 24 - maio de 1999
Atualizada em setembro de 2025
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